quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A QUILHA DA FÉ

Michael Oakeshott

 

"E o papel de um governo é, não impor outras crenças e actividades aos seus governados, não tutelá-los ou educá-los, não torná-los melhores ou mais felizes de outra maneira, não dirigí-los, galvanizá-los para a acção, não guiá-los ou coordenar as suas actividades de modo a que não ocorra qualquer ocasião de conflito; o papel de um governo é simplesmente governar (ruling)"

(Michael Oakeshott,“On Being Conservative.”)

E em que consiste o 'ruling'? Oakeshott gostava de citar um autor inglês do século XVII, a marquesa de Halifax, que imaginava o navio do estado como 'não tendo lugar de partida nem destino fixado...[e a preocupação sendo] a de o manter a flutuar de quilha estável." (Wikipedia)

A rainha de Inglaterra é essa nau. Mas dizem-nos que não governa. A rainha nunca ameaçaria sair da UE. Quem hipoteticamente governa são os Blairs e os Cameron, pressionados pelas eminências do 'establishment'. Thachter fez tudo ao contrário do que defendia o nosso autor. De facto, 'guiou', 'educou' e impôs a sua crença em gurus como Hayek.

No fundo, a ideia de 'não intervenção' do governo na direcção de um país radica na ideia muito lógica que nenhum governo sabe para onde vai. Nenhum pode prever o futuro. Daí a defender as 'águas paradas' (e a lei do mais forte) estende-se um abismo.

Não é só durante a guerra que uma direcção é necessária (é verdade que a guerra transforma imediatamente os cidadãos em escravos). Podemos imaginar o capitalismo sem crises que matam como uma qualquer guerra?

É próprio de um governo tomar o leme e fazer escolhas difíceis. Não se lhe pode exigir que tenha certezas, nem que não expresse nessas decisões um ponto de vista discutível, em última análise. A 'quilha da fé' é legítima, mesmo sem ser recompensada pela sorte.


 

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