segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

COSMOS

Umberto Eco

 

"Com o "se" e com o "mas" a história não se faz."

(Umberto Eco)


Por outras palavras, "a irresolução é o pior dos males" (Descartes). Mas há o outro lado da questão que é o dos irreflectidos não fazerem o que julgam fazer ou só fazerem asneira.

O 'se' e o 'mas' são operadores do pensamento. O primeiro, por exemplo, explora as hipóteses que se apresentam antes da decisão (li ontem no 'Newswise', cortesia do 'Aspirina B', que até alguns organismos sem cérebro podem pôr em prática uma espécie de pesquisa de 'mercado'). Quanto à adversativa, nada é mais útil do que pesar os pros e os contras antes de agir.

Só que não é assim que as pessoas agem. A acção já começou antes de podermos delberar com o espírito frio. "Alea jacta est'. César, ao juntar a fórmula ao acto, foi como se tivesse apropriado de algo que desde o princípio não dominava. Pura e necessária retórica.

Com esta ideia, apercebemo-nos que a nossa liberdade é posta em cheque sempre que pudermos e quisermos pensar nas verdadeiras causas. Mas a nossa liberdade, por outro lado, é bem real. Basta pensar no que seria a nossa vida e a nossa capacidade de acção se pensássemos, coerentemente, segundo a ideia da absoluta necessidade.

É porque nos cremos livres que o mundo é como é. E essa crença, de facto, é que torna possível a acção e o 'golpe de asa'. Quem somos e para onde vamos, como pergunta o dístico no quadro que Gauguin pintou no Taiti, é a questão a que só podemos responder agindo como se soubéssemos.

 

0 comentários: