sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O JUIZ E A VIÚVA

São Lucas, Apóstolo e Evangelista

 

"Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus nem respeitava pessoa alguma. Na mesma cidade vivia também uma viúva que vinha com frequência à sua presença para lhe dizer: "Faz-me justiça contra o meu adversário." Ele, porém, durante muito tempo nada fez. Por fim reflectiu consigo: "Eu não temo a Deus nem respeito os homens; todavia já que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, senão ela não cessará de me molestar."
(S. Lucas)

Por que é que esta justiça não se faz sempre que há uma vítima determinada, como um insecto que volta a sempre a picar, por mais gestos que se façam para o afastar? Porque foi por causa da 'picada' insistente que o juiz da parábola se determinou a dar satisfação aos rogos da viúva, e não por o caso ser justo. O juiz 'que não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma' é bem o exemplo dum poder que se tornou indiferente à sua razão de ser, como acontece quase sempre, com o tempo. Se não forem os subornos a corrompê-lo, a habituação e o cansaço acabarão por torná-lo exterior à sua função original.

Ora, o juiz daquela cidade não podia desaparecer por detrás do 'sistema judicial', como hoje acontece. A complexidade desse sistema é mais eficaz do que aerosol contra todo e qualquer 'insecto'. Se além disso, o agressor é protegido pelo Estado e pela elite no poder, como um de entre eles, não há mesmo esperança de que a parábola possa ser convertida para o nosso tempo.

É verdade que na esfera doméstica, 'molestar' alguém para obter o que se quer tem um sucesso quase garantido. Mas já não há cidades como a descrita por S. Lucas.

 

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