"Para Heidegger há uma continuidade fatal entre a linguagem assertiva, predicativa, definitória, classificadora da metafísica ocidental e a vontade de adquirir un domínio racional-tecnológico sobre a vida, que denomina de niilismo."
George Steiner ("Martin Heidegger")
Não se trata de uma consequência da linguagem, mas de uma 'continuidade fatal', como quem diz que a vontade 'racional-tecnológica' está indissociavelmente ligada à linguagem da metafísica. Mas o que não se poderá afirmar no âmbito de uma cláusula como essa? 'Tudo está ligado', dizia o poeta. 'Tudo está cheio de deuses' é a crença de Tales de Mileto, um dos primeiros gregos a especular sobre o cosmos.
Mas a recriação da linguagem é essencial em Heidegger. Diz Steiner: "a língua alemã, com a sua ávida vulnerabilidade às torções etimológicas, proporciona a Heidegger uma ajuda inestimável."Para justificar um regresso às fontes, ele forja uma origem e um ponto de corrupção que nos levou à 'queda', notoriamente bíblica.
Temos de seguir o facho deste emérito hipnotizador que enxameou o pensamento europeu com os seus inumeráveis aprendizes, para admitir que a linguagem é o novo 'tudo está cheio de deuses' de Tales.
De alguma maneira, deve estar nos nossos genes a crença numa transcendência que passa necessariamente por nós. Não já como filhos de Deus, mas como o agente privilegiado do auto-conhecimento do cosmos. Apesar das aparências, corresponderá isto muito mais do que ao niilismo, a um segundo humanismo, para a era tecnológica?
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