sábado, 5 de outubro de 2013

O FELIZ RISCAR DE UM FÓSFORO

 


Em tempos de censura virtuosa, o tabaco faz-se conotação, e a mais distante.

Um cinzeiro "design", com descanso para dois cigarros e a marca, parece ainda demasiado directo.

Ambiciona-se, antes, estabelecer uma afinidade poética entre duas realidades contrárias: o fumo asfixiante e o ar livre da planície.

Para contornar a lei, as cigarreiras (que estão boas e inteiras) lançam-se na produção de metáforas exclusivas.

A publicidade é omnívora. Depois de anexar os poetas (felizes dos que ainda podem associar o advérbio perdidamente a um soneto de Florbela Espanca, em vez de a uma marca de queijo!), ela própria escreve o nosso imaginário.

 

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