"Diz que é preciso conhecer a criança para a instruir [...], eu diria antes que é preciso instruí-la para a conhecer. [...] É ensinando-a a cantar que saberei se tem jeito para a música."
(Alain)
Não é o que mostra o caso da criatura encontrada nos bosques do Aveyron, no filme de François Truffaut? Quaisquer que tenham sido as potencialidades humanas do ser selvagem, só as começamos a conhecer depois da sumária instrução do dr. Itard e dos primeiros rudimentos da linguagem que, neste caso, nunca poderia ser mais do que um pobre substituto da língua materna.
O ponto de vista moderno começa pelo outro lado. Parte-se do princípio de que a criança, se não nasceu com os dotes, os adquriu antes de chegar à escola. Como? Pela sua capacidade de interagir com uma ferramenta inteligente. É como se a língua materna cedesse, logo nos primeiros anos, a uma linguagem artificial, mais atractiva e mais universal. Os écrãs fascinam o prqueno ser, e ele depressa 'sabe' mais do que os pais e os professores nessa nova língua.
Na atitude envergonhada de muitos pais em relação ao seu 'atraso' tecnológico, em comparação com os filhos, temos uma das fontes da desorganização da família e da autoridade de pais e professores. Essa atitude significa, na verdade, que já 'cederam' o passado cultural que eles próprios herdaram, em nome dum 'homem novo' que começa por fazer 'tábua rasa' desse passado.
O 'homem novo' está a remeter para o museu de história tudo aquilo em que se fundamentava a escola que sempre conhecemos. Ele não precisa da disciplina das filas de cadeiras, com um mestre-vigilante que o prepare para o emprego sentado, ou preso a um lugar, do antigo terciário. É mais radical ainda do que os velhos marxistas que desqualificavam a memória e os mitos sociais, para exaltar, em vez dos heróis individuais, as forças e a economia, "a última instância".
A lição de Alain tem a ver com a 'forma humana'. Já não estamos aí. Demos um 'salto quântico' no desconhecido.
0 comentários:
Enviar um comentário