John Turner (from the Sketchbook) |
"'Você terá que lhes fazer compreender', escrevi eu, 'que a sua primeira lição consistirá em observar não o que Turner fez, mas o que ele não fez. Estas não são pinturas acabadas, mas estudos; tentativas, quer dizer, para alcançar o máximo resultado possível com os meios mais simples. São sobretudo pensados, e têm cada um o seu propósito definido, ao qual tudo o resto será sacrificado; e esse propósito é sempre imaginativo - para chegar ao coração da coisa e não ao seu exterior."
"Lectures on landscape" (John Ruskin)
John Ruskin (1819/1900) foi uma das principais influências de Proust (chegou a traduzí-lo para francês). A análise da arte, como se vê nesta passagem sobre os esboços de Turner, tem muitos pontos de contacto com a psicologia do Narrador proustiano.
Alain dizia que o autor da "Recherche" tinha o dom de observar o seu círculo mundano como os peixes num aquário. Podia-se, na mesma veia, recorrer às nuances de uma paleta impressionista, que também elas observam uma espécie de economia. Aquilo que, justamente, o Narrador não diz talvez seja, de facto, mais importante do que aquilo que ele diz. A dificuldade é que a palavra proustiana é exuberantíssima...
Se esboço há, no sentido de Ruskin, está na multiplicidade das 'pinceladas' sem um contorno definido. Os habitantes do 'aquário' , ao contrário dos peixes, 'falam pelos cotovelos'. Mas são quase irrelevantes por não dizerem ao que vêm. As personagens recuam para dar passagem ao verdadeiro actor: o tempo (perdido e recuperado).
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