"Um profundo político do país (a Holanda) disse-me suspirando: Infelizmente! Senhor, o bom tempo não vai durar sempre; é só por acaso que este povo se mostra tão zeloso; o fundo do seu carácter é atraído pelo dogma abominável da tolerância, um dia voltará a ele: isso faz tremer."
Voltaire ("Histoire des voyages de Scarmentado écrite par lui même"-1753)
Dois anos antes do terramoto de Lisboa, Voltaire fustigava, incansavelmente, a intolerância. Pretendia, com o caso deste 'profundo' político holandês, atingí-la pelo ridículo. Quando o Estado moderno andava ainda de cueiros, a intolerância era um expedito meio de governo. Percebe-se o perigo, para esse Estado, de cada um pensar por si, razão pela qual o 'dogmático' é o que teima em não se submeter ao dogma 'natural' da religião estabelecida.
Hoje as condições são muito outras. O fenómeno do 'politicamente correcto' quer dizer que a questão levou uma volta de 180 graus. Já não se governa pela intolerância, mas pelo relativismo. As 'moléculas' sociais são um pouco esquizofrénicas, como no "Anti-Édipo. A tecnologia do poder favorece a tolerância, fora dos momentos 'convulsos'.
Pelo menos, parece ser essa a tendência nos países mais avançados. Com os 'lobbies' e as organizações mais ou menos legais a tropedear o famoso 'bem comum'.
Neste 'corpo sem órgãos' deleuziano, uma vontade forte, uma crença fora do comum são inimigos contra os quais não existe imunidade, a não ser a da experiência histórica. Mas onde é que anda a história? Para onde foi a filosofia?
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