Orson Welles como Fallstaff |
(...) é a mais genial concepção de um homem bom, o melhor homem jamais representado em qualquer drama. Os pecadilhos dele são tão pequenos e tão fabulosas são as piadas que ele tira desses pecadilhos. A bondade dele é como pão, como vinho..."
(Orson Welles sobre Falstaff. citado por Bénard da Costa)
Orson dedicou-se, em quase toda a sua obra, a filmar o mal, como nesse imortal "Touch of Evil". O toque lembra o contágio, o que faz de qualquer homem um potencial candidato a cair 'para o outro lado'. O poder em Quinlan e Arkadine têm esse toque. É preciso recorrer a um conceito como a graça para explicar a liberdade conservada.
Por outro lado, é célebre a parábola wellesiana do escorpião que precisa de atravessar o rio, mas não encontra quem o leve às costas. Quando encontra uma 'boa alma', não pode refrear os seus instintos e morde avidamente o seu benfeitor, acabando ambos no fundo do rio. Welles não é capaz de decidir sobre se essa grande força que é o mal vem de dentro do homem ou é um contágio. Mas no caso do escorpião já resolveu a questão: é um instinto. O Iago do 'Othello' pertence a esse tipo de homens.
Agora Falstaff, companheiro de orgias do jovem príncipe Harry. Abandonado por este quando chega a hora de subir ao trono: "Não te conheço, velho! Cai sobre os joelhos e reza. Como ficam mal os cabelos brancos num tolo e num bobo!" Welles na velhice encarna à perfeição a personagem. O elogio que faz do gordo pagem é quase dirigido a si próprio. A sua fabulosa carreira, ele troca-a pela bondade instintiva de Falstaff, o anti-escorpião. Bondade que o povo não está longe de comparar à tolice.
Rosebud continua a emitir o seu sinal perdido...
0 comentários:
Enviar um comentário