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"Ele tinha de novo, penosamente, como se procede ao ajustamento sobre um objecto próximo, de destruir esse sentimento de identificação à sua própria imagem. O eu é uma neurose intermitente, e o homem estava longe ainda de estar curado."
"Les particules élémentaires" (Michel Houellebecq)
A psicologia americana, num esforço de racionalização e de superação da teoria psicanalítica, 'simplificou' a classificação das doenças mentais ao abolir o termo neurose, sem dúvida, demasiado freudiano, e passando a relevar a síndrome e a teorizar sobre os sintomas visíveis. A dita simplificação elege a anxiedade como o princípio geral de definição das neuroses.
A anxiedade revela uma falha psíquica na adaptação do indivíduo ao meio ambiente. Assim se poderia compreender melhor a frase de Houellebecq. Cada 'desfocagem' do eu, por deslocação relativa do mundo (dos objectos próximos) traz anxiedade, e o eu é obrigado a 'ajustar' a sua imagem, processo durante o qual se 'ausenta'.
Mas esta 'intermitência' da neurose seria mais uma crise do eu 'ajustado' do que uma interrupção, ou um paroxismo da neurose.
O eu 'ajustado', em princípio, não terá sintomas de 'anxiedade'. Por outro lado, se quisermos dar toda a força à ideia do autor, não existe uma normalidade do eu. O eu 'ajustado' é sempre uma ilusão que mascara o desajuste permanente. O eu é o produtor da sua própria ficção.
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