Chateaubriand |
"'O Senhor de Chateaubriand é de estatura bastante pequena, e no entanto elegante. o seu rosto oval tem uma expressão de piedade e de melancolia. Tem os cabelos e os olhos negros: estes brilham do fogo do seu espírito que se pronuncia nas suas feições"
François-René Chateaubriand (in “Mémoires d'Outre-Tombe", citando a baronesa de Hohenhausen, Berlim, 1821.)
Esta impressão mundana sugere à vaidade do autor de "Renée" o tom dos panegiristas de Luís XIV. A baronesa que encontrou o grande homem num baile no grande palácio do rei, não se fica pela pincelada romântica. Exalta "Atala" e “la Vie et la Mort du duc de Berry”. Reconhece o estadista. Para Chateaubriand era, no entanto, uma linguagem ultrapassada.
Em relação a nós, a mudança devia ser incomensurável. Nenhum jornalista, decerto, apresentaria uma celebridade tentando descrever o seu estado de alma. Há uma razão muito forte para isso: o império da imagem. Ao vermos, na televisão, um homem político, sabemos que a primeira regra que ele procurará cumprir é a de esconder o seu 'estado de alma'. Chateaubriand era, provavelmente, neurasténico (mais uma palavra fora de moda) e dava a ver a falsa soberba dos tímidos. Mas, na época, preferia-se interpretar esse aspecto como a 'profundidade' de um abismo literário tornado moda de sociedade, fenómeno que era suficientemente sério para converter o suicídio em obra de arte, na esteira do jovem herói de Goethe, meio século antes.
O que separa enfim o 'papel' que lhe atribuíam e se atribuía o homem de sociedade, da época do nosso visconde, do político-actor de hoje? Eu diria que é o grau de organização do próprio espectáculo.
A qualidade de romântico não era produzida por uma indústria (não certamente a dos editores). A imposição de um 'rôle' podia defrontar-se com a sensibilidade do gosto. Hoje, pelo contrário...
0 comentários:
Enviar um comentário