quarta-feira, 11 de setembro de 2013

PERFORMANCE

Michel Houellebecq

 

"Os homens e as mulheres que frequentam as 'boîtes' para casais renunciam rapidamente à procura do prazer (que pede 'finesse', sensibilidade, lentidão) em proveito de uma actividade fantasmática, bastante insincera no seu princípio, de facto, directamente decalcada dessas cenas de 'gang bang' dos pornos 'moda' difundidos pelo Canal+."

"Les particules élémentaires" (Michel de Houellebecq)

Aquilo que Pasolini dizia sobre a repressão da palavra que consiste em obrigar a falar, parece aplicar-se à experiência do prazer, afinal, muito mais complexo, nos humanos, do que qualquer satisfação dos impulsos naturais. Naturais, nem se pode dizer porque a cultura dos grupos entra nisso.

Assistiremos, depois deste fracasso do 'animal triste' capaz de entregar a outrém (e à moda como no caso acima) a gestão do seu prazer, ao regresso do princípio do 'fruto proibido'?

Os homens não precisam, realmente, de 'cultivar' o corpo, conforme a ideia que é vendida no mercado adjacente da saúde. No entanto, a crença existe e até é provavelmente útil do ponto de vista social.

A propaganda do prazer acima de tudo tem ainda mais adeptos, como é natural. Esses estão dispostos a trocá-lo pela compensação fantasmática de que fala o autor francês.

Perguntar-se-á porquê. 'Performance' é a palavra. É muito mais fácil do que o prazer.

 

 

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