segunda-feira, 1 de abril de 2013

WALSER E A TABACARIA



Fernando Pessoa (Almada Negreiros)


"Não me apetece estar sempre bem disposto, nem sempre mal disposto. Uma coisa alterna com a outra. Uma pessoa que seja amiga de si própria não gostaria de se sentir satisfeita com a sua existência sem o merecer."

Robert Walser ( "Uma estalada e outras coisas")

É o segundo grau do humor. Não me apetece o que me apetece.

O estilo de Walser é assim. Cheio de uma ironia desconcertante, de alguém que passa pela vida sem realmente se envolver.

Mesmo um lugar-comum da moral, que é o sentir-se bem consigo próprio (porque se tem a consciência tranquila), é virado do avesso com essa cláusula do merecimento. Quem poderá dizer se merecemos ou não senão a nossa consciência?

Ou isto:
"Parece-me ser meu dever falar de mim próprio com toda a consideração que me é devida."(ibidem)

Walser, que teve um fim fora da linguagem não poderia ter o pathos (branco, como o verso) de Álvaro de Campos:


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
("Tabacaria")

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