Noite estrelada (Van Gogh) |
"Se bem que hoje tal pareça ignorar-se, a formação da faculdade da atenção é o verdadeiro fim e quase o único interesse dos estudos. A maioria dos exercícios escolares tem também um certo interesse intrínseco; mas esse interesse é secundário. Todos os exercícios que fazem um verdadeiro apelo à capacidade de atenção são interessantes a título idêntico e de modo quase igual."
Simone Weil ("Reflexões sobre o bom uso dos estudos escolares em vista do Amor de Deus")
Quando estou algum tempo sem ler Simone Weil, custa-me a crer que este pensamento possa continuar a surpreender-me e que nele encontre sempre novos motivos de admiração.
Este texto sobre a atenção, por exemplo, como é radical!
Há tempos escrevi aqui que a disciplina sedentária foi o principal (houve outros, evidentemente) ensinamento da escola, tal como a conheci. Realmente, esquecemos quase tudo (se não voltamos aos livros), menos o que aprendemos com o corpo. Depois dos anos de liberdade da infância, ficar sentado durante horas, sem nos podermos distrair com os outros, parece-me já um esforço considerável e um exercício que nos prepara para as horas muito mais longas passadas a uma secretária (se arranjarmos um emprego como 'escriturário', por exemplo).
Mas como isso está longe ainda da atenção de que nos fala Simone!
Esse fim, segundo ela, de qualquer estudo, secundarizando a matéria estudada, está nos antípodas da orientação profissional e de qualquer especialização. E essa é uma ideia que vai a contrapelo de toda a nossa cultura técnica.
Por isso mesmo, talvez admitamos que haja níveis de atenção, e um cristão compreenderá que esta, enquanto substância da oração, é a mais pura que se pode conceber.
Mas o que Simone Weil diz é que a atenção é de uma só natureza e, portanto, a cultura técnica se condena inapelavelmente à distracção.
Chamemos-lhe entertainment.
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