terça-feira, 16 de abril de 2013

O QUE NOS CONTENTA



"Posso 'encontrar confirmação' de praticamente tudo, da mesma forma que um taxista londrino competente consegue encontrar engarrafamentos para aumentar o preço da corrida, mesmo num feriado."

(Nassim Taleb, "O Cisne Negro")

A verdade é que os factos nos mudam muito pouco e havemos sempre de preferir uma meia verdade conveniente, que nos poupa a conversões rápidas, do que a verdade toda que nos rouba o conforto das mais queridas ilusões.

Na conversação, vemos vir de longe o que pode trazer-nos inquietação e, chegados a esse ponto, 'desconversamos' com toda a naturalidade.

Diz Daniel Kahneman a propósito disto:" É esta a essência das heurísticas intuitivas: quando somos confrontados com uma questão difícil, respondemos, em vez dessa, a uma mais fácil, geralmente sem notarmos a substituição.".

É certo que aqui se trata mais de uma 'dificuldade cognitiva' do que amor próprio, ou a nossa 'imagem' perante os outros. Mas é do esforço e do desconforto que quase sempre envolve o confrontarmo-nos com a realidade dos factos ou com o problema da verdade que é questão.

Porque esse confronto significa o abandono de formas consagradas de civilidade e da 'arte de viver'. Lutar contra o que consideramos um preconceito nos outros é tarefa arriscada, pois não sabemos até que ponto a vida dessas pessoas está fundada em ilusões desse tipo.

Normalmente o tom de voz, mais do que as palavras, adverte-nos de que estamos a entrar em 'campo minado'. Optamos, devido ao hábito e à educação, por 'respeitar' o sossego dos outros, consolando-nos com o pensamento de que a 'verdade' não é deste mundo.

Os grandes profetas, como Cristo, que puseram em causa esta 'conspiração do silêncio', tiveram ainda em vida a prova de que a traição é de todos e a todos os momentos.

Nem por isso Pedro deixou de ser a 'primeira pedra'.

 

 

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