"O sentido novo que se produz é escasso - a estagnação do sentido contribui para a paralisação da democracia, para a repetição formal dos gestos adquiridos (de que o ritual do 25 de Abril é o exemplo, cada vez mais patético);"
(José Gil, "Portugal, hoje")
As 'ordens', os indivíduos, príncipes, clérigos, homens de armas, nos painéis de S. Vicente, não foram captados 'ao vivo', num grupo formal, posando para o retrato colectivo. São almas separadas, cada uma como se estivesse diante de Deus, ou do rei, seu representante terreno. Em julgamento. Não se distraem perante o juiz. Apresentam-se na sua função social, pelo traje e a expressão 'inocente'' do rosto (no sentido em que não têm consciência da presença dos outros e, por isso, não representam).
Não estão mortos. Estão 'em efígie', se tivessem morrido, pensaríamos num cenotáfio, porque os corpos não estão ali.
O que não se pode dizer da obra-prima atribuída a Nuno Gonçalves é que não produza um sentido 'novo' (para a época). Ali, a nação está sob o olhar da eternidade, segura de si, num só povo.
Como é possível que esta 'imagem' de Portugal estivesse cerca de 400 anos fora do nosso olhar, como que 'recalcada' nas caves do nosso inconsciente? Ressurgiu, envolta em polémica, quando parecia que já tínhamos deixado de saber quem éramos.
Estamos noutro momento assim. Como produzir o sentido novo de que fala José Gil? Os nossos 'poços de petróleo', o novo oiro do Brasil, não seriam tão providenciais como seria um novo retrato colectivo.
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