quarta-feira, 3 de abril de 2013

O PASSADO

(Palais Garnier)

 

"Não há nenhumas humanidades modernas [...] é preciso que o passado esclareça o presente, sem o que os nossos contemporâneos são aos nossos olhos animais enigmáticos."

(Alain)

Serão estas palavras ainda pertinentes, no tempo da comunicação instantânea, dos bancos de memória virtual e da aceleração da história?

Precisaremos de uma sabedoria do tempo em que a experiência e o amadurecimento eram ainda os guias mais seguros?

O que a aristocracia despejada da história pela Revolução francesa chamava de 'doçura de viver' (Talleyrand) e que não era mais do que o tempo favorável à sua hegemonia e aos seus privilégios, pode ser muito parecido com a nostalgia dum tempo mais lento, que deixava as coisas no mesmo lugar.

A revolução tecnológica (pois foi ela que transformou as nossas vidas para além dos sonhos dos políticos mais radicais) 'despeja' cada vez mais depressa grupos etários e sociais na inactualidade, a ponto do eterno conflito entre o velho e o novo valer já dentro do que é novo (segundo a idade), mas se deixa desactualizar.

A par duma 'sagesse' que enfrenta os problemas do poder espiritual num mundo regido pela técnica, que são, em grande parte, os problemas da Igreja católica, assistimos à afirmação de uma pragmática assente em valores relativos e utilitários que parece dispensar completamente o conhecimento do passado.

Não corresponde isto àquilo que Marcuse, nos anos setenta, chamava de homem unidimensional? Seja como for, ao prescindirmos do passado (a não ser como linguagem distintiva, que justifica os poderes), tornamo-nos mais 'livres' (para qualquer fim), porque mais desenraizados, num processo idêntico ao analisado por Marx, a propósito da mercadoria.

 

 

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