quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

PSYCHO





Era Karl Popper que dizia que "a maior parte dos problemas, senão todos, são problemas de sobrevivência."


O problema do 'suspense' que preocupava Alfred Hitchcock talvez não fosse um verdadeiro problema, mas estava decerto relacionado com a sobrevivência, ou com o medo, o último 'guardião da vinha'.

Já o poeta gostava de contemplar o mar tempestuoso dum lugar seguro, ou, em terra, o trabalho dum outro: "Suave mari magno turbantibus aequora ventis e terra magnum alterius spectare laborem;" (Lucrécio).

E não é tanto para nos prepararmos para a passagem difícil, como pelo prazer de sobrevivermos ao perigo que realmente não corremos.

"Psycho" foi o filme que estabeleceu Hitch, definitivamente, como o mestre do 'suspense'. O filme de Sacha Gervasi conta a história da sua produção, contra a resistência da indústria de Hollywood, numa primeira fase. Tratava-se dum filme sem precedentes, por abordar, com uma técnica consumada, o continente da loucura. Perkins é o Norman Bates perfeito. Um dos muitos mentalmente 'disfuncionais' que a nossa cultura técnica traz à convivência da dita normalidade.

A reacção do público da época, a julgar pela versão que nos é dada neste filme, faz lembrar a dos primeiros espectadores dos Lumière, ao verem um comboio aproximar-se deles à razão de 20 fotogramas por segundo.

É com "Psycho" que a frase de Freud, quando disse que levava a peste para a América, ganha todo o seu sentido. A psicanálise fez o seu caminho na cultura americana até ser consagrada num filme de Hitchcock do modo mais violento possível (longe do romantismo pacífico da "Casa Encantada").

O gozo do espectador pode medir-se pela dimensão pressentida do grande perigo. Ed Gein, o psicopata que terá inspirado o cineasta, é-lhe por de mais familiar...

Como não pretendo fazer uma crítica do filme, deixo a espantosa 'reincarnação' de Anthony Hopkins sem a menção devida.

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