"A estalajadeira" (Carlo Goldoni, 1752) no teatro de S. João, com uma plateia surpreendentemente jovem (mas a noite do Porto não é para velhos, e aquela praça vela o cadáver do cinema Batalha, escondido pela silva dos graffiti).
Mirandolina (Catarina Wallenstein) tem vários pretendentes, socialmente 'transversais', e de todos a sua virtude triunfa. Com o cavaleiro que odiava as mulheres alcança a sua coroa de glória. Mas como é uma mulher ajuizada e do seu tempo, casa com o seu criado Fabrizio.
A mulher 'emancipada' (mas, evidentemente, no sentido do 'Ancien Régime', uma espécie de Pompadour plebeia que sabe levar pela trela o 'rei da espécie', nada mais) rende-se ao socialmente correcto, entronizando Fabrizio como o novo patrão da estalagem e introduzindo-o na contabilidade.
Esse final conformista, depois da exaltaçäo do 'segundo sexo' (sempre longe, todavia, da problemática da igualdade; a mulher domina pelos seus encantos e pela sua astúcia), deu lugar a um comentário entre duas jovens, na fila de trás: "O final é chocho, mas é preciso pôr a coisa no seu contexto..."
A peça está cheia de ritmo, os actores são muito bons. A convenção teatral não choca o leigo, habituado a outras 'cadências' e a outra linguagem. Mas, de vez em quando, um pequeno atrito fere, como um movimento da Wallenstein demasiado rápido que tem de estacar por falta de espaço, ou a ideia de fingir as espadas. Se é admissível, em certas encenações, suprimir as duas comediantes, por que não levar o partido da 'semi-actualização' até ao fim, adaptando a cena?
De tarde, mais uma manifestação contra a política do governo. À saída, perto da meia noite, a sopa dos pobres. Uma fila de cerca de trinta pessoas que passam pela mala dum carro aberta para receber a sua porção.
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