"As primeiras almas, exactamente como os primeiros aviões, tinham de partir de uma montanha, não de uma época baixa."
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
As nossas metáforas não são inocentes. Nestas palavras de Hans, o namorado ariano de Gerda, há todo um programa de dominação para uma dada conjuntura histórica. O super-homem nietzscheano inspirou a ideia da montanha.
Mas, embora tenha surgido do mundo mecânico (das máquinas que voam), a comparação não se esgota no seu emprego arianizante. Faz sentido que precisemos de tomar altura quando não temos impulso para o salto, o que no campo da ética, por exemplo, quer dizer que não podemos passar sem os exemplos 'heróicos', como os entendia a Antiguidade. Sabe-se como as "Vidas de Plutarco", entre tantas outras obras, representaram uma tal ideia.
Os nossos heróis são à nossa imagem e semelhança, e a altura que ambicionamos é em grande parte mediática. Em vez de inspiração para a política, para as artes ou a vida moral, recebemo-la de ídolos que alcançaram a glória e o dinheiro no entretenimento dos outros, no espectáculo desportivo ou da televisão e do cinema.
A própria política, como se sabe, fez do espectáculo o seu modo de obter os consensos e precisa, sobretudo, de actores.
A metáfora de Hans é hoje manifestamente exagerada.
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