segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O INFERNO DO ESQUECIMENTO



                                                    Charles de Sousy Ricketts, Orfeu e Eurídice


No mito de Orfeu, o herói descendo aos Infernos para trazer Eurídice de volta ao mundo dos vivos, perde-a por se ter voltado para trás, cedendo às suas súplicas e protestos de amor. Ela não sabia que o seu regresso nunca visto dependia daquela condição.

Muitas vezes um mal-entendido está na origem da tragédia.

Que é preciso vencer o sentimento, a piedade e o desejo é a interpretação mais superficial.

O admirável neste mito, como em tantos outros que a Antiga Grécia nos legou, é o seu sentido da verdade humana, a ponto de que quando julgamos estar em presença dum milagre (o regresso dos mortos), é a situação mais comum que se nos oferece, mas num plano transcendente (o verdadeiro Inferno é o esquecimento). Porque é uma nova vida que começa, mas como a duma presença invisível, mais próxima do que relação alguma.

O futuro de Eurídice seria assim real, sem ser actual (Deleuze).

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