segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A DÚVIDA QUE SALVA

André Maurois


"Quem é capaz de duvidar e crer, duvidar e agir, duvidar e querer, está salvo."

(André Maurois)

É a lição do mestre, Alain.

Porque a dúvida não dá sossego, não há 'descansar à sombra dos louros' e o crer não tem o amparo da boa consciência.

A dúvida na acção é uma contradição nos termos. Rouba sempre alguma força, tanto mais que nunca poderemos provar que a acção é justa. Por isso o soldado exemplar abdica na hierarquia. Se duvidas no momento de saltar, falhas o salto, como dizia o mesmo Chartier. É por isso que a acção depende de uma jura a si mesmo. Como quando Ulisses mandou os seus homens prendê-lo ao mastro. Os melhores pensamentos no momento do perigo são sereias.

E o que é a vontade se nunca chega o momento de decidir? Isto é, de cortar com a dúvida? Há que entender esta conjunção. Duvidar e querer são dois momentos necessários, mas nunca simultâneos. Porque não se pode querer e não querer ao mesmo tempo.

Tolentino chamava a atenção, no Expresso desta semana, para a conotação teológica do converter, do salvar e da justificação, usados em qualquer computador. Salva-se documento de quê? Do fluxo sem nome da informação digital, em última análise, do 'dust bin', do lixo.

O que Maurois diz com o seu salvar não anda longe disso. Só há homem se nos 'salvarmos'. Quando a dúvida deixa de nos estremecer, somos, mais ou menos, uma coisa entre coisas.

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