A música obsidiante do "Casanova de Fellini" dá à torrente das imagens, dum esplendor raramente alcançado pelo próprio cineasta, a dimensão do mistério íntimo. A música massaja-nos por dentro.
Sem o génio de Rota, a personagem deixar-nos-ia quase na indiferença apenas curiosa, sem aderir ao seu patético destino.
Casanova seria um obcecado que quando não vemos em grande gala e inchado como um peru, encontramos em trajes menores aplicado às suas proezas duma sexualidade sem corpo (tal como a pornografia), que nos permaneceria exterior sem a cumplicidade da música.
O filme é tudo menos erótico e é mais um sonho do Settecento, com todas as suas figuras dentro dum realejo.
Fellini dizia que as Memórias de Casanova eram tão aborrecidas de ler como a lista telefónica.
Com esta parábola sobre marionetas ajustou contas com o seu don juanismo, dum modo muito mais cruel do que em "Oito e Meio", por exemplo.
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