Tony Judt, falando da situação no Médio Oriente ("O século XX esquecido") diz que não é admissível denunciar, como em certas reuniões se faz, o "imperialismo norte-americano ( ou já agora o sionismo judaico) sem um grama de compreensão de que essas são sociedades complexas, nem sempre verdadeiramente representadas pelas políticas estúpidas ou cruéis dos seus governos."
Problema realmente importante se o fim dessas denúncias fosse procurar um melhor entendimento em vista duma qualquer solução. Infelizmente, é a propaganda e a guerra que interessam, pelo que a confusão e o 'ruído' são muito mais úteis. O 'diálogo de surdos' não resulta duma dificuldade de entendimento inultrapassável, mas duma técnica política rentável para certos grupos. Ou seja o pior surdo é o que não quer ouvir, que tem de mudar radicalmente, se 'emprestar a orelha'.
Na Bíblia, o povo judaico é muitas vezes referido como contumaz e de cerviz dura em relação ao seu próprio Deus. Mas é uma atitude comum. Por muito que se elogie o diálogo e a tolerância, ninguém abre o 'Santo dos Santos' a um estranho, por causa dum argumento da razão. E é pelo mesmo motivo: teríamos de mudar, e mudar demasiadas vezes.
Se a religião não nos interpela constantemente, é porque passou a hábito. O problema de Jeová é que era um deus indiscreto e ciumento que não largava o seu povo.
Pergunto-me se a democracia é um regime diferente, se existe nela um verdadeiro diálogo e uma verdadeira abertura, ou se ela prova pelo absurdo a impossibildade duma epifania de 'revelações'. Quer dizer que, a cada nova forma de diálogo corresponde um fechamento mais profundo. Como há quem diga que a superfície é o que há de mais profundo, a democracia dialogante será no limite pura exterioridade.
0 comentários:
Enviar um comentário