sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A TRAIÇÃO DE NINOTCHKA






Lubitsch, na primeira parte, antes de se apaixonar, dá-nos de Garbo o retrato duma idealista cega e cortante como uma guilhotina (dado o tom de comédia, melhor seria dizer, talvez, cortante como uma navalha castradora).

A transformação da personagem pelo amor, ou por um Cupido capitalista, nunca a leva a abjurar esse idealismo, apenas a deixar cair os seus antolhos.

Mesmo no final, em que se rende aos argumentos do seu apolítico amante e deserta com os três renascidos boémios que abriram um restaurante em Istambul, mantém uma réstia de fidelidade, protestando ser ainda "a good russian".

Não é só a coerência psicológica que leva o realizador a tomar este partido. Garbo, simplesmente, não pode "perder a alma", numa cambalhota ideológica levada pelo charme parisiense. O mistério da diva suporta a contradição, mas não o simplismo.

Ninotchka não trai. É reeducada pelo amor.

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