domingo, 24 de fevereiro de 2013

O "TUDO É ECONÓMICO"





"Se eu considerar a economia, por exemplo, não posso negar a existência de um princípio de realidade económica, de estruturas económicas de permuta. Mas, visto globalmente, o económico não se permuta com coisa alguma, não existe equivalência do económico enquanto tal. Nesse sentido, revela-se pois ininteligível em termos de pensamento radical. Ora o pensamento radical não anula o real (como o poderia fazer?), apenas o põe fora de jogo, fora da equivalência."

Jean Baudrillard ("O paroxista indiferente")


Numa sociedade dominada pelo discurso da Economia, estas palavras seriam um bálsamo, se não viessem dum profeta que nos promete o pior possível.

Baudrillard admite um princípio de realidade económica, mas nega à Economia a capacidade de tornar inteligível o mundo em que vivemos.

Continuam válidas as regras da aritmética e da contabilidade, o balanço do deve e do haver (como não?), mas os economistas saltam destas verdades comezinhas para explicações e vaticínios que pressupõem uma ciência da humanidade global, a qual não existe, nem pode existir.

É inegável que, por vezes, os factos parecem dar-lhes razão, mas, sendo as suas análises parte do problema, isso deve-se levar mais à conta da sugestão do que da consequência.

Em determinadas conjunturas, a Economia é a ideologia determinante e socialmente a mais eficaz, pois é verdade que a penúria simplifica drasticamente o problema humano e impõe a pertinência material do cálculo.

Sendo a economia uma variável entre outras e o seu fundo científico uma conjectura, resta-lhe ser uma opinião verosímil de que os governos deitarão mão, à falta de melhor.

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