"A Torah" |
"A Escritura não significa a subordinação do
espírito à letra, mas 'substituição da letra pelo solo. O espírito é livre na
letra e em cadeias na raiz. É sobre o terreno árido do deserto em que nada se
pode fixar que o verdadeiro espírito desce
para a sua universal realização.'"
(Thomas Nevin, citando Émmanuel Lévinas)
Toda a problemática do interesse é escritural (e
escriturária). Mas a eleição do deserto e do povo do deserto pelo 'verdadeiro
espírito' parece apenas um ponto de vista 'étnico'.
Seria preciso acreditar numa 'história sagrada' para
fazer jus a um argumento desses. O Cristianismo, que Simone Weil pretende
subtrair às fraldas judaicas no rapto miraculoso do espírito grego, é fruto da
auto-negação duma judia assimilada à cultura francesa, como Nevin reclama, ou é
uma outra invocação do deserto (simbólico, este)?
O deserto dum mundo sem 'os interesses', sem dinheiro e
sem poder. Numa palavra, sem a idolatria em que uns e outros, judeus e
cristãos, sempre foram relapsos.
A Bíblia sem as suas poucas jóias de espiritualidade é mundana sem apelo
nem agravo, e é o 'Novo Testamento', inspirado pelo platonismo que liberta o
verdadeiro espírito cristão, como dizia Simone?
Como todos os fundadores duma religião (e muitos há que
estão próximos da hagiografia, no caso da autora de 'Attente de Dieu'),
Simone Weil corta com a tradição. E uma espada é uma espada: não pretende ser
'justa', mas 'verdadeira'.
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