segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A LETRA E A RAIZ

"A Torah"



"A Escritura não significa a subordinação do espírito à letra, mas 'substituição da letra pelo solo. O espírito é livre na letra e em cadeias na raiz. É sobre o terreno árido do deserto em que nada se pode fixar que o verdadeiro espírito desce  para a sua universal realização.'"



(Thomas Nevin, citando Émmanuel Lévinas)


Toda a problemática do interesse é escritural (e escriturária). Mas a eleição do deserto e do povo do deserto pelo 'verdadeiro espírito' parece apenas um ponto de vista 'étnico'.

Seria preciso acreditar numa 'história sagrada' para fazer jus a um argumento desses. O Cristianismo, que Simone Weil pretende subtrair às fraldas judaicas no rapto miraculoso do espírito grego, é fruto da auto-negação duma judia assimilada à cultura francesa, como Nevin reclama, ou é uma outra invocação do deserto (simbólico, este)?

O deserto dum mundo sem 'os interesses', sem dinheiro e sem poder. Numa palavra, sem a idolatria em que uns e outros, judeus e cristãos, sempre foram relapsos.

A Bíblia sem as suas poucas  jóias de espiritualidade é mundana sem apelo nem agravo, e é o 'Novo Testamento', inspirado pelo platonismo que liberta o verdadeiro espírito cristão, como dizia Simone?

Como todos os fundadores duma religião (e muitos há que estão próximos da hagiografia, no caso da autora de 'Attente de Dieu'), Simone Weil corta com a tradição. E uma espada é uma espada: não pretende ser 'justa', mas 'verdadeira'.



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