domingo, 4 de novembro de 2012

A CORNUCÓPIA

"A Liberdade guiando o povo" (Delacroix)




O braço erguido ao céu, destacado no fundo branco, entre o vermelho e o azul da bandeira, é o vértice impetuoso da pirâmide que assenta nos mortos do primeiro plano.

Esta é talvez a mais célebre representação duma ideia positiva da Liberdade, a qual se encontra, na maioria dos casos, em oposição às correntes e àquilo que a oprime.

Delacroix apresenta-nos uma jovem de pés nus e seios descobertos incitando os cidadãos armados e que os conduz à vitória, por entre o fumo da pólvora e as pedras da barricada, tendo por fundo Notre Dame e os prédios de Paris.

Quem é essa bela figura, estuante de saúde, que tanto contrasta com os rostos emaciados dos populares e a esqualidez dos cadáveres?

Há dois focos de luz no quadro como a indicar um antes e um depois revolucionário: a bacia quase impudica do morto, a quem só deixaram uma peúga e o mais belo sovaco da história da pintura, com a sua haste e a sua vinha.

Sem inimigos à vista, parece que a Liberdade é a própria cornucópia da vida, em que o pudor se transcende no heroísmo e na generosidade.

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