terça-feira, 27 de dezembro de 2016

UM SÓ HOMEM

(Vista do Campanile de S. Marcos)

"Grandes e extensas vassouradas explicativas da mudança social vendem bem. Pequenos, cuidadosos estudos de coortes da mesma idade, debruados de todos os lados por uma rica especificidade, não."

(Rebecca Onion sobre Norman Ryder e o conflito inter-geracional)

Por muito ricos e densos que sejam os estudos sobre a especificidade, não podem substituir a generalização, um qualquer grau de abstracção enviesada desde do princípio ao fim.

É na base dessas 'vassouradas', mais ou menos confirmadas por gerações, umas atrás das outras, que a maioria das pessoas conseguem formar uma 'visão do mundo' e, a partir daí, tomarem as suas decisões. É claro que isto não significa que a tradição, de resto, cada vez mais efémera e 'descartável', tenha o privilégio de detentora da 'verdade'.

Foi necessária, num mundo menos organizado e, sobretudo, menos 'conectado'. O individualismo preparou-nos para esta espécie de segurança que confia na racionalidade do novo córtex tecnológico e que permite que 'mil flores floresçam' na estufa da democracia.

Mas, paradoxalmente, o indivíduo, nas sociedades ocidentais (mais uma generalização para encurtar razões), sente-se cada vez menos seguro, à medida que o seu modelo de vida desafia o resto do mundo globalizado. O terrorismo talvez seja a doença infantil deste confronto, até que a produtividade de futuro permita à grande maioria do planeta dispor dos meios para se juntar aos 'bem-aventurados'.

Até lá, porém, será como a peste negra dos novos tempos, estendendo a sombra da sua foice sobre os prazeres, 'legítimos' ou não, dos 'mais avançados'.

O grande perigo é que as conquistas da ciência e da técnica possam acabar por servir a destruição mútua, ou a do nosso habitat, por não partilharmos de algumas generalizações fundamentais.

E esse é um combate de deuses e não de homens. Demasiados deuses para a oportunidade de um só homem.

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