sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

FOCAGENS


Bibliothèque contemporaine / pour école maternelle /
 à usage professionnel / en bois MAGISTEO DPCtor.









"Alain não acredita que se possa instruir, divertindo; acha, pelo contrário, que é ensinando o esforço à criança que se pode ensinar alguma coisa."

(André Sernin)


'Ensinar o esforço' é ensinar a aplicar  bem a força e a atenção. Por exemplo, todo o esforço para tocar piano sem método nos cansa, e a desistência não se faz esperar. O autodidacta não aprende sem uma paixão que o livre das distracções.

A outra ideia, a de ensinar como quem nos distrai, só germina se for ao encontro de uma inclinação já existente e de algum modo lavrada. Nesse caso, é mais uma prática do que um novo ensinamento.

Não há dúvida, porém, que a consigna de ensinar divertindo parece a mais adequada ao tempo futuro, em que a atenção dos mais jovens, perdida a disciplina do livro e da interiorização do indivíduo, se tem de adaptar, precisamente, a outro tipo de atenção, a do ambiente de um jogo electrónico. O vinco na testa e a concentração do esforço, em tantos casos, podem levar-nos a pensar que está ali toda a atenção, mas como se sabe, a verdadeira atenção é como um pássaro na mão que não pode ser apertado. Para aprender, precisamos mais do paradoxo de uma 'aplicação distraída', que não perde a liberdade de pensar.

Por isso, não está bem dito dizer-se que esses jovens se distraem e que são solicitados para uma desfocagem omnipresente. Estaremos, talvez, mais perto da verdade, se dissermos que eles se 'perdem' numa atenção exclusiva e infrutífera, devoradora de 'tempo e espaço'.

É como se quiséssemos ensinar alguém a ser especialista de nada. Ensinar uma criança a passar sem o 'olhar panorâmico', o das escolhas que todos temos de fazer.

Todavia, é preciso reconhecer que a antiga sala de aulas preparava para a fábrica ou o escritório, e os novos modelos parecem  tatear o melhor ambiente para a 'sociedade sem trabalho', que não é tão utópica como isso.


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