"Alain denuncia a fórmula 'A paz pelo direito' como um grito de guerra, porque o direito é o que se quer. A verdadeira paz é pela arbitragem (...). O homem perigoso é aquele que quer a paz pelo direito, dizendo que não recorrerá à força, desde que o seu direito seja reconhecido. Isso promete-nos um futuro radioso (...). O acto jurídico essencial consiste nisto: que solenemente se renuncia a sustentar o seu direito pela força."
"Alain, un sage dans la cité" (André Sernin)
Com a bagagem da 1a. Grande Guerra, que viveu nas trincheiras, o filósofo Alain (Émile Chartier) escreveu dois livros tendo por título Marte, o deus da guerra romano. Não foi por acaso que escolheu um deus. Nem foi por acaso que, como sub-título daquele díptico, tivesse escrito: a 'Guerra Julgada'. Porque o paganismo nos passou a imagem da assembleia dos deuses manobrando das nuvens os títeres que nós somos. Julgar o seu 'desígnio' é, pois, uma fanfarronada, ou um acto de fé na razão (que correspondia, também entre os Gregos, a uma figura divina). A conclusão óbvia deste dilema, se pensássemos como esses brilhantes atenienses, seria a de que, de uma maneira ou de outra, quer puxados por Neptuno, quer por Atena, no fundo, a nossa pobre raça não sabe 'a quantos anda'. Isto parece-me muito apropriado no caso dos últimos sucessos dentro da União Europeia e no outro lado do Atlântico.
A posição racional e pacifista a todo o custo do grande mestre de toda uma geração, esbarrou contra o muro dos bárbaros que escolheram um louco para seu chefe. E verificou-se o que todos temiam: o pacifismo foi posto de lado como uma relíquia para melhores dias.
Claro que a fórmula de que não haverá paz se quisermos guiarmo-nos pelo nosso direito, pela retórica das 'conquistas alcançadas', cheiraremos o 'perfume de vitória' da derrota final de todos. Por isso, a China faz bem em 'medir as suas palavras'. Estamos, de novo, com um louco à frente do maior poder na terra.
A nossa grande esperança é que, sendo também militar, é muito mais do que isso. Talvez não cheguemos a ver o cowboy, do 'Dr. Strangelove' de Kubrick, a cavalgar a bomba como se estivesse no seu rancho.
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