"A teoria dos costumes e a sua utilidade na vida do homem podem ser comparadas à vantagem que se retira de percorrer o índice dum livro antes de o ler (...)."
"Mémoires" (Giacomo Casanova)
Giacomo Casanova não tem nada dum cínico, apesar daquela citação.
O Príncipe de Ligne diz dele que só as coisas que pretendia saber é que não sabia: "as regras da dança, da língua francesa, do gosto, dos usos da gente e do saber-viver."
Um homem com uma tão grande ideia de si próprio, e tão desfocada, está destinado a continuamente se equivocar no juízo que faz dos outros e sobre a opinião que têm dele.
Defendia-se com uma sensibilidade abespinhada e uma permanente desconfiança que, no fim da vida, já não eram mais do que misantropia.
E talvez esteja aí, nesse fracasso íntimo e nessa secreta insegurança, aliados a uma perseverança de inspiração fatalista ("sequere deum": segue o teu Deus) o segredo do seu sucesso junto das mulheres. Ainda o Príncipe de Ligne:
"Seria um belíssimo homem, se não fosse feio: é grande, esculpido como um Hércules; mas uma tez africana, olhos vivos, cheios de espírito, na verdade, mas que anunciam sempre a susceptibilidade, a inquietação ou o rancor, dão-lhe um pouco um ar feroz. Mais depressa pode ser levado à cólera do que à alegria, ri pouco, mas faz rir; tem uma maneira de dizer as coisas parecida com a do Arlequim desajeitado e a do Fígaro, que sabe tornar muito divertida."
0 comentários:
Enviar um comentário