sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

ESTALIDOS COM A LÍNGUA

Théâtre du blog » Le vide/Essai de cirque

"Ao mesmo tempo que a especialização continua, que a pesquisa se estende a novos territórios e se aprofunda nos antigos, que a economia continua a criar novas tecnologias e serviços, os subcultos continuarão a proliferar. Esses críticos sociais que invectivam a 'sociedade de massas' num fôlego e denunciam no seguinte a 'sobre-especialização' estão simplesmente a fazer estalidos com a boca. Apesar de muita conversa solta sobre a necessidade de 'generalistas', não é nada evidente que a tecnologia de amanhã possa dispensar um exército de especialistas altamente treinados."

"O Choque do Futuro" (Alvin Toffler)

Embora o autor preveja a necessidade de uma evolução dos 'mono-especialistas' para os 'multi-especialistas', '(...) à medida que a base técnica da sociedade se torna mais complexa', continuamos a ser governados sem qualquer ideia racional do nosso 'destino' e do que significa esse poder que, ingenuamente, poderíamos dizer que se nos escapou das mãos.

A verdade é que assim como o Filipe II da 'Pedra Filosofal' nunca chegou a saber que coisa é o fecho 'éclair', embora pudesse ser, na altura, o monarca mais poderoso da terra, Toffler, quando escreveu o seu livro, não podia adivinhar o que hoje para nós representa a Internet. De facto, a incógnita do futuro não é coisa nova, e essa circunstância explica, só por si, porque é impossível que nos governemos.

Ao sermos incapazes de ver para além dos problemas técnicos e das soluções que essa limitação essencial torna 'necessárias', já não nos podemos reclamar de uma ideia antiga ou moderna do homem. A mutação e a ambiguidade é o princípio dessa 'alienação'. Não estamos a ser desapossados de um poder que sempre tivemos, por via das máquinas que nós próprios inventamos.

O paradigma de Deus e da  sua Criatura foi, talvez, o ponto mais alto do nosso discernimento. Substituam-se aquelas palavras por quaisquer outras, a situação só ganha em nebulosidade. E claro que não é preciso 'acreditar' em Deus para reconhecer a nossa falsa potência e que verdadeiramente não podemos pensar para além de nós.

A tese 'generalista' não é  só conversa fiada. No fundo, é a utopia essencial.


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