quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

DA NATUREZA DO ESTUQUE





"A estetização está para além do belo, do bem e do verdadeiro, ou melhor, estes reduzem-se àquela."
(Paul Veyne)

Aquilo que o historiador chama de estetização é um embrulho universal que envolve tudo numa mesma linguagem. Baudrillard falava no estuque do barroco e do rococó para significar que o mundo estava todo representado nessa matéria branca: desde as uvas e dos pássaros aos deuses da mitologia.

Então é bem possível que as redes sociais nos estejam a fazer falar uma linguagem branca a que se reduzem as grandes categorias platónicas. Perfeita estetização podíamos dizer.

 Numa entrevista recente (http://www.newyorker.com/contributors/david-remnick), Obama, no contexto das presidenciais, comenta: "Agora, através do Facebook e do Twitter, você pode dar-lhe a volta. Há uma permissão para este tipo de discurso. Mais, através dos mesmos mídia, pode encontrar pessoas que concordam consigo, que validam estes pensamentos e opiniões. Isto cria toda uma nova estrutura de permissão, um sentido de afirmação social para aquilo que antes se considerava impensável. Isto é uma mudança fundacional."

O facto de se ter adquirido uma espécie de 'impudência' no discurso público, à mistura com o sentimento de 'afirmação social', está evidentemente ligado ao fenómeno da estetização que valida a nova linguagem. Mesmo a pornografia e a pasquinada mais cínica são 'embelezadas' em prejuízo do 'belo, do bem e do verdadeiro'.


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