"Aliás, o caso da gravidade mostrou explicitamente que todas as forças actuantes entre os corpos podiam ser reduzidas a forças que agiam entre partículas. A repulsão era um corolário natural da atracção. Logo, na Questão 31, ele proclamou: "Assim como, na álgebra, onde desaparecem e cessam as quantidades afirmativas, começam as negativas, também na mecânica, quando cessa a atração, uma virtude repulsiva deve suceder-se a ela". Dessas coisas, Newton não tinha nem podia ter dúvidas, pois elas eram, a seu ver, senso comum; ele podia insistir e insistiu em que estava falando da maneira mais corriqueira."
"O significado da síntese newtoniana" (Alexandre Koyré)
Notemos o 'salto' epistemológico, em que Deus já é uma hipótese supérflua, por muito religioso que o cientista julgasse continuar a ser. Newton diz: "assim como na álgebra etc, etc." Isto significa que a 'Natureza' pode ser reduzida à ideia da Natureza. Toma-se um código racional e a partir dele desenvolve-se um mecanismo. Compreendemos, enfim, o grande relógio do universo. Mas isto é tomar 'a nuvem por Juno', o mundo pela linguagem.
A questão é que isso não importa nada quanto aos resultados. O homem, com essa interpretação 'redutora', transforma, de facto, o mundo e transforma-se a si próprio. O profeta de Trier tinha, afinal, razão, com a sua 11a tese sobre Feuerbach: o que importa é mudar o mundo, e não interpretá-lo. A própria compreensão do mundo depende da mudança que se vai 'impondo'.
A 'algebrização' cosmológica abriu uma imensa perspectiva para a 'exploração' do espaço. E a 'prova do pudim', aqui, foram as novas odisseias para além do planeta. No filme de Kubrick, o super-computador podia ter sido programado por outro Monte Olimpo ou por um irlandês embriagado. A certa altura, a missão foi interrompida por que a tripulação se sentiu 'utilizada' e em perigo de irrelevância.
Newton programou o nosso sistema 'natural', com a garantia de que Deus não podia estar enganado.
Mas a tripulação está nervosa.
0 comentários:
Enviar um comentário