Desenho de Leonardo da Vinci
"É acabrunhante pensar que talvez não haja nada para saber, que todo o falso só nasce por se querer saber."
Elias Canetti ( "Le Territoire de l' homme")
Sem dúvida, o saber que se acumula, que se acrescenta como um edifício que, na sua massa, se interpõe entre nós e a vida. Algo que sabemos que está ali ao dispor da vontade, como meio de vencer ou para servir os nossos esquemas.
Essa concepção de que o saber é algo de adquirido não é o contrário da maiêutica socrática para a qual a verdade é sempre um nascimento? De facto, não há nenhum tesouro por detrás da perseguição da verdade, nada que possa justificar o nosso orgulho e a nossa vaidade. Não foi a ânsia de saber que perdeu Fausto?
Nunca como hoje, tão distintamente, o saber aparece confundido com o poder e com a informação. Quase pode medir-se em valor-homem.
A figura que melhor representa esse espírito demoníaco do saber é Leonardo da Vinci, admirado na nossa época por um homem como Bill Gates que construiu um império "soft". Mas não enquanto artista.
"A sua crença na natureza é fria e terrível; crença numa nova forma de dominação. Ele mede a sua incidência sobre os outros, mas não tem medo de nada. É precisamente este género de temeridade que se apodera de nós, o seu resultado é a técnica. Em Leonardo, a coexistência da máquina e do organismo é o facto mais macabro da história do espírito."
Elias Canetti ( ibidem)
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