domingo, 23 de outubro de 2016

LADAINHA

"O homem de barba branca"(Tintoretto)

"Eu parto do princípio de que o perfeito, o total, não existe mesmo e sempre que, de uma destas obras de arte ditas perfeitas aqui penduradas nas paredes, consigo fazer um fragmento, procurando nessa obra um erro grave, o ponto determinante do fracasso do artista que fez a obra, até o encontrar, dou um passo em frente."

"Antigos mestres" (Thomas Bernhard)

A primeira reacção à leitura de "Mestres antigos" de Thomas Bernhard é a de dizer que esta prosa merece o destino que Reger, a personagem principal, reserva à produção artística de todas as épocas, com especial destaque para a produção austríaca.

Neste meu segundo encontro com o reputado autor, continuo ainda "às escuras" e sem ver como é que esta obra pode alguma vez estar ao nível da de outros autores contemporâneos de língua alemã. Nem sequer falo no maior de todos, Musil.

Na ladainha dispéptica de Reger (só comparável na maledicência ao masoquismo português), há, certamente ideias interessantes. Tampouco se pode negar o efeito irresistível de algumas repetições "ad nauseam", repetições que fazem parte do estilo do autor e que só são passíveis da crítica do gosto.

Mas talvez esta literatura seja mais complicada do que parece e não possa ser lida no primeiro nem no segundo grau.

Só me lembro de idêntica dificuldade ( se é disso que se trata) no caso dum filme de Manuel de Oliveira: "O passado e o presente". Este filme sempre me pareceu intragável, mesmo quando se sabe que é suposto dramatizar gente ridícula.

E aquele portão que continuamente se abre e se fecha ao som de Mendelssohn bole-me com os nervos como o monótono repisar de frases de Bernhard.

1 comentários:

Anónimo disse...

Pois.

Parece que o defeito é mesmo, um defeito de leitura, digamos de pouco treino, de boa literatura. Um Musil ( genial!!!) não é suficiente, ainda que o seja necessário ... Mas compreende-se com tão abjecta literatura por aí publicada de tanto sermos engodados com ela, por vezes, ao defrontarmo-nos com um Thomas Bernhard, somos como que apanhados desprevenidos e cambaleantes , embriagados, acabamos por não aguentar o seu safanão de ALTA GENEALIDADE ...
Mas, confesso que ler a Extinção ( advertência: Não ler a contracapa da Assírio Alvim! Inadmissível que a ganância de tentarem facilitar a leitura do Bernhard - oferecendo uma papinha – lhe consigam retirar o clímax. Logo, ler só depois! - tipo ver o filme e só depois confrontar com a crítica)
...Dizia da Extinção! Um LIVRO GRANDIOSO!.
Também digo que par ler Bernhard, para dele tirar proveito, rentabilizar a leitura ( porque é genial - COMO o MUSIL, O PROUST; O ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE!!)é necessário uma certa "iniciação, um percurso a percorrer. Cair e paraquedasNs Antigos Mestres ( tao habituados às pocarias que por aí se Publicam - escoham do pedro mexia, Ggonçalo M. tavares, mega ferreira ( o poeta) e coisas similares) pode parecer que a forma airosa e fácil da viperina e corrosiva ironiado Bernhard é coisa desprovida de profundidade. Grande Gaffe!

Vale.

www.f-se.blogspot.com

(dá um passo a tras e pega no Bernhar e experimenta o efeito e depoid diz qq coisa)