(Félix Nadar)
"E, contudo, a arte contemporânea é inevitável que aconteça, mas o atributo “contemporâneo” como qualificativo desta arte é cada vez mais gerador de desalentos e equívocos, cuja grande responsabilidade está ligada ao facto de a sua matriz ser euro-atlântica, mas o seu mercado financeiro ser global e determinante no estabelecimento dos modos maioritários de produzir e consumir arte."
(António Pinto Ribeiro in "O embaraço da arte contemporânea", Público de 19/10/2016)
Poderemos falar da arte de uma maneira geral, no contexto de uma crise que já vem dos inícios do século XX? Ou este é um fenómeno que atinge especialmente a pintura e o estatuto da imagem por ela veiculado?
De qualquer modo, a consciência de uma crise no campo da arte, começou, talvez, com o advento da fotografia que obrigou os artistas e o público a questionarem-se sobre o valor representativo da pintura. Depois de Nièpce ter obtido uma vista do sótão da sua casa, a pintura cresceu em arbitrío e má-consciência. Nunca mais a proeza de Ingres, ao tentar voltar ao classicismo, seria possível. Pode-se reproduzir uma obra do passado, ou falsificá-la (o que são as únicas vias de acesso a esse 'realismo' ingénuo), mas sem a inocência requerida e a fé que estava implícita no acto de pintar.
Claro que a globalização põe tudo em causa e a arte também. Não é mais possível 'visitar' uma obra contemporânea sem a corte mediático-financeira ou sem se estar acompanhado de um Virgílio especialista ou crítico. É mais um passo na 'descolagem' da terra para uma plataforma 'universal'.
O articulista cita Agamben, dizendo, no final, que "a contemporaneidade não é uma evidência, nem algo que se torna visível na actualidade." É mais do que certo que o pássaro de Minerva se levanta ao escurecer (Hegel). Sinal de que esta crise não é um esgotamento nem o fim de uma época. É apenas uma aceleração do tempo. Não é o que significa, no fundo, a globalização?
0 comentários:
Enviar um comentário