Sem Woody Allen como actor, temos outro cinema. É impensável aquele rosto fora duma comédia espirituosa, a tantos gags verbais por minuto.
Em "Match Point", em vez disso, contenção. E a ideia da sorte, condenando uns e salvando outros, independentemente do mérito e da responsabilidade.
Um jovem ambicioso acede aqui à "upper class" londrina, através da porta grande, pelo casamento. Mas o seu sucesso é ameaçado pela sua paixão por uma plebeia dos States. A embraiagem no irracional é preparada pelo tema de Donizetti que se ouve ao longo do filme e este acaba num duplo crime absolutamente demente. Mas o que podia ser tema para uma "english tragedy", desemboca numa comédia graças a um imponderável da sorte.
Admitamos que o jovem leitor de Dostoiewski dará por si, um dia, a rir-se dos problemas de consciência de Roskolnikov. Nada, porém, na personagem nos faz levar a pensar que esteja à altura do cinismo de Ivan Karamazov.
Mas talvez o autor russo seja uma falsa chave. E que baste a Woody Allen que o espectador já tenha perdoado os crimes.
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