"Ararat" (2002-Atom Egoyan)
O filão de Egoyan é a memória. Depois de ver "Ararat", em que se filma o genocídio da população arménia de 1915, para que os que o negam (os Turcos) e os que o desvalorizam ( pensando como Hitler) não imponham a sua versão da História, melhor se compreende uma obra como "O futuro radioso" (1997).
Nesta, trata-se de não vender a memória das crianças desaparecidas, num processo milionário. Em "Ararat", o monte bíblico em que Noé construiu a sua Arca, reúnem-se os testemunhos dessa tragédia, antes do dilúvio do esquecimento.
O passado é objecto duma luta apaixonada, não só pelos que o viveram directamente, mas também pelos herdeiros destes.
O actor de origem turca descobre em si uma alma de algoz, como se essa história inexpiada o modificasse a ele, imigrante no Canadá, que não viveu os acontecimentos.
O episódio da alfândega em que Cristopher Plummer, pensando no próprio filho, põe de lado o cão-polícia e apesar da heroína que tinha nas mãos, decide acreditar no homem que precisava de se sentir inocente para cumprir a sua missão, é a chave do filme.
É preciso acreditar contra as provas.
Existe já um outro monte de Ararat feito de recusa e de esquecimento.
É preciso acreditar que as mãos da mãe de Gorky, apagadas da pintura, representam, sem palavras, a tragédia.
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