sábado, 15 de outubro de 2016

ANOMALIAS TRANSCENDENTES


Immanuel Kant (1724/1804)


O facto do mundo parecer obedecer às leis do nosso entendimento, como descobriu Kant, essa recôndita harmonia que faz com que a matemática e a geometria dentro de nós correspondam a qualquer coisa de real no mundo que nos cerca, quase como o monadismo o previa, só acontece, claro, porque o nosso cérebro é o produto não só duma herança genética mas da exploração do mundo pelo indivíduo, que assim assimila, sem se dar conta, as suas/nossas leis.

Materialismo e idealismo são ambos irrepreensíveis. É por isso que as anomalias da matemática, como os números irracionais e imaginários, ou as paralelas que se "encontram" no infinito, que tanto fascinavam o aluno Töerless (Musil), constituem uma espécie de desmentido dessa harmonia e dessa adequação, apesar da sua eficácia prática. Como ele diz: "no princípio de qualquer cálculo desse género, temos números perfeitamente sólidos que podem simbolizar metros, pesos ou o que se quiser de concreto. E são cifras semelhantes que encontramos no fim da operação. Mas estas últimas cifras estão ligadas às primeiras por qualquer coisa que não existe!"

Parece pois que a nossa inteligência, através da matemática, não pode ir além dum certo ponto e que é a própria matemática que nos diz que existe algo para além dela e que o espaço que interiorizámos não é o que pensamos, nem se pode explicar pelas leis do entendimento.

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