segunda-feira, 10 de outubro de 2016

PALIMPSESTO




"Martha Nussbaum mostra que 'a fonte da tragédia, a fatalidade que é espoletada para lançar a destruição sobre os heróis, reside na decisão que eles tomam de esquecer os conflitos inerentes às suas respectivas causas.' Nisto, diz ela, existe uma estratégia mortal de sobresimplificação de uma situação complexa."
(Jacques Taminiaux)

Simplificar, não é um erro. É uma condição. Não podemos deixar de fazê-lo para tornar o mundo 'compreensível', o que já é em si uma redução de cabeças, uma jivarização.

O alfa e o ómega dessa simplificação é a matemática. É simplesmente perfeita, mas não é a realidade. Se olharmos para o progresso dos últimos cem anos, o que na racionalização dos sistemas e das organizações foi alcançado, podemos ter uma ideia do quanto nos aproximámos do mundo ideal da matemática e nos afastámos do mundo real.

A pergunta é, então, se isso faz alguma diferença, na medida em que sempre nos protegemos da realidade, desde o pensamento mágico aos cumes da filosofia alemã.

Ora, segundo a reflexão de Nussbaum, esta situação é verdadeiramente trágica. Esquecemos (estaria certo Platão ao dizer que não conhecemos nada, e apenas nos recordamos?) e, no fim, fazemos da nossa vida tão-só um palimpsesto sobre a realidade.

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