(Júpiter e Tétis de Ingres) |
"E é precisamente a 'objectividade', a neutralidade moral em que as ciências rejubilam e atingem a sua brilhante comunidade de esforço, que lhes retira a relevância final. A ciência pode ter as ferramentas e as pretensões insanas de racionalidade para aqueles que concebem os crimes de massa. Dificilmente nos diz alguma coisa sobre os seus motivos, um tópico sobre o que valeria a pena ouvir Ésquilo ou Dante."
(George Steiner)
Utilizando a linguagem de Comte, a ciência (o estado positivo) teve, ao longo da sua história, de abandonar o seu casulo teológico e metafísico, antes de se tornar o 'horizonte inultrapassável' da nossa época, que foi a expressão com que um dos mais mediáticos filósofos do século XX, Jean-Paul Sartre, se referiu ao marxismo, na altura considerado 'objectivo' e, até certo ponto (enquanto se cingiu à crítica do capitalismo), 'moralmente neutro', como é apanágio do espírito científico.
Este espírito nimbou a teoria do 'Capital' até o espírito e a prática da organização política a terem posto ao seu serviço, na ex-URSS. E o que havia de 'teológico' (as profecias) na ideia de Marx não sobreviveu ao novo 'horizonte inultrapassável' do progresso científico e tecnológico que se tornou a única utopia possível.
Mas, ao mesmo tempo, algo mudou no ponto de vista humanista (chamemos-lhe assim). É que os motivos de uma mente, ou de uma organização criminosa, pouco nos ajudam a compreender os acontecimentos. Que poderia dizer o autor da Orestíada, por exemplo? A não ser, talvez, que outras forças caprichosas substituíram os deuses e que a 'responsabilidade' não pode ser, de facto, atribuída a nenhum ser com aparência de homem, de deus ou semi-deus. Mas, é verdade, que já Zeus ou Neptuno eram 'irresponsáveis'...
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