sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O ZERO E O INFINITO




"O facto é que já não acredito na minha própria infalibilidade. É por isso que estou perdido."

("Darkness at Noon"- Arthur Koestler)

A lógica pode ser um demónio e o pensamento de que os fins justificam os meios é o melhor exemplo.

Quando se sentia 'infalível', respaldado numa fé comum no sistema histórico (que é uma contradição nos termos), Rubashov não tinha dúvidas sobre os sacrifícios que era preciso impor aos 'leigos', em nome da Grande Causa. Quando, por sua vez, foi apanhado na rede da suspeição generalizada, não podia deixar de querer a salvação da lógica em seu prejuízo. Tinha de aplicar a si mesmo a sentença dos infalíveis.

Nem a questão do erro judicial se podia pôr. Porque o que podia parecer um erro aos olhos enevoados ou que deixaram de ver, na realidade, era apenas uma forma mais complexa da verdade. Pôr em causa a sentença do tribunal equivalia a questionar a própria infalibilidade, a infalibilidade que resulta de conhecer o futuro, porque se conhecem as leis da história.

Rubashov deve, pois, condenar-se a si mesmo, embora sinta que está a ser injustiçado. Mas ele não conta. Na caldeira da grande locomotiva, ele é apenas uma acha. Que pode ele colocar no outro prato da balança?

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