"Plutarco opõe esta execrável liberdade (da igualdade) à verdadeira, a que ele chama também parrésia; poder falar sem medo ao soberano, falar-lhe de igual para igual (isegoria), eis a 'libertas', o franco-falar, eis a liberdade sob o Império."
(Paul Veyne)
O conceito de classe foi a escada para sair deste mundo sócio-político e pôr em movimento um novo mundo em que a política mal se distingue da dialéctica. E a dialéctica hegeliana é idealmente dinâmica, implica o dizer de um processo e de uma 'superação'.
No actual estado de coisas, o que já foi novidade e 'horizonte inultrapassável' (Sartre) envelheceu inexoravelmente e tornou-se simples retórica.
Supunha-se que o antigo orador falava verdade (se seguisse as regras) e era tanto mais verdadeiro quanto maior era o perigo que corria (Foucault). A parrésia, entretanto, morreu quando lhe foram exigidos provas e factos, segundo o espírito das ciências da natureza.
Evidentemente, a retórica continua a cumprir a sua função de encantamento, dispersa pela galáxia mediática, mas dispensando já orador e orações (é uma técnica experimentada e de eficácia segura) e largamente extravasando da vida política.
Nestas circunstâncias, a liberdade de tutear o soberano tornou-se possível graças a um avatar, ou a um 'banho de multidão', mas não tem qualquer relevância. A igualdade execrada por Plutarco, desde o princípio que foi mais ambígua do que o 'franco-falar'. E a igualdade das classes sempre foi o preâmbulo de uma evicção da História de todas as classes menos uma, que no fim já não teria direito a esse nome.
De qualquer modo, a realidade de hoje provou a falência de todas as profecias. E a 'salvação' é uma retórica que mirra a olhos vistos como a nêspera do Mário Henrique Leiria.
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