"Este príncipe do Entendimento, medindo o próprio Entendimento, recusou procurar aí a nossa perfeição, e Deus aí, rebaixando audaciosamente o nosso poder de compreender perante o atributo do querer."
(Alain)
Descartes, crente em Deus, católico até ao fim, tornou-se o apóstolo de uma nova visão do mundo, baseada na razão e na matemática. Abriu o caminho para a revolução científica, e ele próprio foi um luminar do cálculo e da óptica.
A célebre 'dúvida metódica' deve muito a Sócrates que fez da tentativa de compreender aquilo que dizemos, desde a sabedoria tradicional ao simples 'acho que' a grande revolução do pensamento antigo. A sua divisa que proclama uma ignorância assumida, de facto, põe tudo em causa, e ia contra todo o poder instalado num consenso 'natural' que até ali nunca tinha sido posto em causa. Por isso, Veyne pergunta se 'Os Gregos acreditavam nos seus deuses', o que é muito pertinente, principalmente depois de Sócrates, o ímpio que excluiu a abjuração por razões éticas e políticas. O filósofo francês, tanto quanto sabemos, e anunciando Kant, não viu a sua fé abalada pelo seu método crítico, mas na prática fê-la depender da sua fé na geometria.
A 'vontade' cartesiana teve muitos avatares e alguns deles levaram a Europa por um caminho de trevas. Nietzsche, bem ou mal compreendido, foi um deles, mas isso é apenas uma parte da sua enorme influência.
Com o suplemento darwiniano, podíamos dizer que a doutrina da vontade, explica muito da nossa época, um tempo em que o indivíduo 'livre', sede de uma vontade sem compromissos que se explica por si própria, independentemente dos vários sistemas e da engrenagem tecnológica, cessou de existir.
O fim do humanismo já foi e é muito falado. Falta um 'moscardo' ateniense que o 'desoculte'.
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