"Nunca se instalam belvederes nos cumes mais altos, mas sempre em montanhas de altitude média."
"L'Homme sans Qualités" (Robert Musil)
O belveder chama a atenção do que passa para uma bela vista e custa, às vezes, não mais do que um pequeno desvio. Os cumes 'acima das nuvens' exigem um outro empenho e outras forças, e é sempre o objectivo principal. Nenhuma varanda é precisa, a vista, tal como a natureza a apresenta é apenas a coroa do esforço. Este, porém, traz a sua própria recompensa.
A montanha é, aqui, o símbolo de uma escala de valores. É inútil tentar poupar a alguém a escalada. O que ele obterá não se aproxima, nem de longe, nem de perto, à experiência que o corpo do outro sente e que é qualquer coisa de incomunicável.
Mas, como no caso da fruste transmissão das palavras a uma criança que não as compreende, a um certo ponto, a linguagem começa a exercer o seu mágico poder. O infante (o que não fala ainda) 'lembra-se', então, do que lhe ensinaram.
Contem-me suficientes relatos dessas gloriosas escaladas, e eu, algum dia, me tornarei perito em montanhas faladas e montanhas que falam.
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