Persona (Ingmar Bergman) |
"Quando se é jovem, adere-se melhor a uma paisagem do que a um homem. É que as primeiras se deixam interpretar."
(Albert Camus)
Devia ser ao contrário, parece-me. Um vale não não tem um significado oculto. Se mais tarde se descobrir nele uma caverna do paleolítico, não foi o seu significado que se desocultou.
Pelo contrário, o homem tem sempre muita coisa a ocultar e serve-se permanentemente da máscara que o torna identificável entre os outros. Por isso, todo o actor corre o risco de Elisabeth Vogler (Liv Ulmann), em "Persona" de Ingmar Bergman: o de perder a ligação da palavra e do corpo à sua máscara. Não é por acaso que a sua enfermeira (Bibi Andersson) se chama Alma. A verdade é que a personagem e o texto teatral precisam de ser incarnados.
Os jovens projectam-se melhor na paisagem, é certo. E perante o 'segredo' do homem só podem ficar 'desconcertados'. Não imaginam que aquilo neles que mais seduz os mais velhos é a simulação da profundidade, característica distintiva da beleza 'superficial'.
Um vestígio, talvez, da identificação platónica entre a beleza e a verdade.
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