quarta-feira, 22 de outubro de 2014

DAS RUÍNAS

Viollet-Le-Duc

"John Ruskin opõe-se com fervor, a partir de 1849, às concepções do arquitecto Viollet-le-Duc, para quem a arquitectura deve formar um todo homogéneo, com desprezo da história e da integridade do monumento. Em "As Sete Lâmpadas da Arquitectura", Ruskin define um monumento arquitectónico como um conjunto orgânico que é preciso apoiar (restaurando-o o menos possível) mas que é preciso também deixar morrer. "

"200 Citações sobre as Artes, as Obras de Arte e as Belas Artes"
(Antoni Gelonch-Viladegut)

É esta uma questão do Romantismo hoje ultrapassada?

A opinião de Le-Duc vingou numa segunda vida dos monumentos, embora desintegrada do seu contexto cultural e histórico, problema com que, obviamente, não se preocupa o turista compulsivo e nada 'acidental', condicionado a seguir o 'pacote' de uma agência de viagem ou de um 'site' da Internet.

Mas o crítico de arte inglês também deixou a sua marca nas ruínas apropriadas pela hera romântica de um Ruysdael. Porém, também a ruína é sustida na sua queda irremediável com os materiais que se julga mais apropriados para não deixar morrer a sua estrutura. 

O sacrifício dos vestígios antigos proposto por Ruskin, esse, não é seguido em lado nenhum. É curioso que o método de 'deixar morrer' deste homem de cultura tão refinada tenha um paralelo inesperado com o dos talibãs que 'forçaram a morte' dos budas de Bunyan. A morte lenta imposta pela nossa passividade é ainda morte.

Pode parecer arbitrária a consolidação da ruína para quem vê nos monumentos o exemplo de um 'organismo' que está inexoravelmente ligado a um contexto perdido. E a verdade é que a ruína 'restaurada' não anda longe do  'pastiche'  que  mesmo
o turista apressado sabe muito bem depreciar.

Tudo isto me torna presente o paradigma da Grécia que é, quando comparada com Roma, por exemplo, em que os monumentos, mesmo os que, aparentemente se deixam morrer de pé, têm ainda tanto corpo,  como o Panteão de Agripa, ali, em grande parte, temos um mundo de indícios no vazio. Quase tudo é ideia, e é bom que isso possa ser assim.

Por contraste, a reconstrução de partes do Palácio de Cnossos, em Creta, com antiguidade quase venerável ela própria, é um momento de repouso para o espírito.

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