terça-feira, 14 de outubro de 2014

MORALISTAS

Samuel Johnson

"Johnson era um moralista, e faltava-lhe aquela divina ligeireza que faz espumar os versos dos dois maiores poetas satíricos ingleses. A indignação pode fazer poesia, mas deve ser uma indignação recordada num estado de tranquilidade."

(T.S.Eliot, "A crítica e a poesia de Johnson") 


É a intenção que corta as asas à poesia e a impede de se transformar em 'espuma' ligeira e 'para nada'. Um programa, qualquer que seja, já é uma 'camisa de sete varas'. Esse, pelo menos, é o entendimento da nossa época. Porque o maior poeta italiano foi moralista, mas, de facto, a sua indignação foi convertida pela vastidão do quadro: Inferno, Purgatório e Paraíso. Não há pessoa em Dante, mas só um espectador, 'com as costas quentes'. A 'Divina Comédia' é uma viagem fantástica, mas segura, como nos diversos 'túneis' da feira popular.

La Fontaine foi o maior dos moralistas. Pelo mundo animal interposto, as suas fábulas proclamaram a verdade a grandes e pequenos. Com a vantagem dos vícios terem um focinho (os porcos, no mundo da fábula, não podem ter virtudes, o que é até injusto).

Samuel Johnson (1709/1784), ensaísta, lexicógrafo, biógrafo, poeta (Wikipédia), segundo Eliot, era um indignado sem retrospectiva. Faltava desprendimento à sua poesia. De facto, a acção só pode devorar os poetas.



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